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O alicerce da confiança: Como funciona a calibração de sondas de temperatura em IoT para conformidade regulatória

A medição que pode valer milhões!

Imagine um lote de vacinas e medicamentos avaliado em milhões, sua viabilidade depende de uma temperatura mantida rigorosamente na faixa de 2 °C e 8 °C. Agora, imagine que o sensor responsável por esse controle apresenta um desvio de apenas 1 °C, sem a devida correção, esse pequeno erro pode levar à perda de todo o lote, a prejuízos financeiros e, o mais grave, a riscos para a saúde dos pacientes.

A calibração de sondas de temperatura em sensores IoT é um processo fundamental para garantir a precisão das medições em ambientes críticos, especialmente nos setores farmacêutico, hospitalar e alimentício.

A conformidade com regulamentações do INMETRO e da ANVISA exige um rigor técnico que começa no projeto de hardware e se estende até a rastreabilidade dos dados em plataformas de monitoramento.

É para evitar cenários como este que a calibração de sondas de temperatura em sensores IoT existe, ela não é um mero procedimento técnico, é o alicerce que garante a integridade, a segurança e a conformidade de operações críticas nos setores farmacêutico, hospitalar e alimentício.

O objetivo da calibração: O DNA da confiança

A calibração visa assegurar que um sensor apresente medições confiáveis e com rastreabilidade a padrões nacionais e internacionais reconhecidos, garantindo conformidade com normas como a ISO/IEC 17025.

A rastreabilidade é o “DNA” que comprova que sua medição é válida e pode ser auditada, sendo essencial para controles críticos e para a validação de Boas Práticas de Fabricação (BPF).

As etapas técnicas da calibração

O processo é meticuloso e segue um padrão rigoroso para garantir a máxima precisão.

  1. Preparação e ambiente de teste controlado: A sonda do sensor é submetida a ensaios em equipamentos de altíssima estabilidade, como banhos termostáticos ou fornos de calibração. Todo o ambiente e os instrumentos de medição devem ser certificados por laboratórios acreditados conforme ISO/IEC 17025, reconhecida pela CGCRE (Coordenação Geral de Acreditação) /INMETRO. Os sensores são testados em câmaras térmicas controladas (banhos termostáticos, estufas ou dry blocks).
  2. Comparação com padrões de referência: A leitura da sonda em teste é comparada, em diversos pontos de temperatura (ex: -20 °C, 0 °C, 25 °C), com um termômetro padrão de referência. Este padrão, por sua vez, foi previamente calibrado por laboratórios superiores e possui uma incerteza de medição significativamente menor que a do sensor sendo testado.
  3. Análise de dados e correção de desvios: Com os dados da comparação, calcula-se o erro de medição do sensor em cada ponto. A partir desses erros, é gerada uma equação ou curva de correção. Essa correção pode ser aplicada diretamente no firmware do dispositivo IoT (via lookup tables ou algoritmos de interpolação) para que ele reporte o valor real, já corrigido. Sensores analógicos como PT100, PT1000 ou NTCs, por sua natureza, exigem essas compensações para atingir alta precisão, são geradas curvas de correção com base nos desvios medidos.
  4. Emissão do certificado de calibração: Ao final, é emitido um certificado de calibração, documento que formaliza todo o processo, rastreado à Rede Brasileira de Calibração (RBC). Este certificado detalha os valores medidos, os erros encontrados, as incertezas de medição e a rastreabilidade à Rede Brasileira de Calibração (RBC). Este documento é a prova final para auditorias da ANVISA e processos de validação de Boas Práticas de Fabricação (BPF).

Calibração RBC x Calibração rastreada

É crucial entender a diferença:

  • Calibração acreditada (RBC): Realizada por um laboratório que foi auditado e acreditado pela CGCRE do INMETRO. O certificado vem com o selo do INMETRO e tem validade legal incontestável. É mandatória para muitas aplicações críticas.
  • Calibração rastreada: Realizada por um laboratório que, embora não seja acreditado, utiliza padrões que foram calibrados em laboratórios RBC. Oferece rastreabilidade, mas sem o selo oficial, é uma opção viável e de menor custo para controles internos e aplicações menos críticas.

Conformidade com INMETRO e ANVISA: Requisitos Regulatórios

  • INMETRO: Exige que os instrumentos de medição em processos regulados sejam calibrados em intervalos definidos, preferencialmente por laboratórios acreditados pela CGCRE.

Exige calibração periódica por laboratórios acreditados pela CGCRE.

Instrumentos de medição devem estar com certificados válidos e rastreáveis.

  • ANVISA: Normas como a RDC 430/2020 (Boas Práticas de Distribuição, Armazenagem e Transporte de Medicamentos) e a RDC 275/2002 (Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados para Estabelecimentos de Alimentos) demandam controle ambiental preciso, contínuo e documentado.

A calibração é a base para atender a essas exigências.

É exigido registro documentado de dados ambientais e validação contínua.

O ciclo de vida da calibração

A calibração não é um evento único, sensores sofrem com o “drift“, um desvio natural ao longo do tempo, ou seja, deve-se periodicamente acompanhar:

  • Validade: Um certificado de calibração tem um prazo de validade, geralmente de 12 meses, após o qual uma recalibração é necessária.
  • Gestão Automatizada: Plataformas de IoT modernas devem gerenciar esse ciclo, associando cada sensor a seu certificado, controlando a data de validade e emitindo alertas automáticos para a equipe de manutenção antes do vencimento, garantindo conformidade contínua.

Arquitetura de sistema IoT para monitoramento calibrado

Para que a calibração gere valor na prática, ela precisa estar integrada a uma arquitetura de sistema robusta, do sensor à nuvem.

1. Camada de sensores (Field Level)

  • Sensores: PT100/PT1000 com conversores ADC de alta precisão ou sensores digitais como DS18B20, SHT3x, a família Sensirion SHT.
  • Sondas calibradas: Sondas com certificação RBC, idealmente com a curva de correção armazenada em uma memória interna (EEPROM).
  • Interfaces: I2C, 1-Wire, Modbus RTU, ou redes sem fio como LoRaWAN para longo alcance.

2. Camada de borda (Edge Computing / Gateway IoT)

  • Hardware: MCUs como ESP32, STM32 ou gateways industriais com Linux embarcado.
  • Processamento local: Aplicação da curva de correção da calibração em tempo real, validação de faixas de operação e geração de timestamp preciso com RTC e sincronização NTP.
  • Armazenamento temporário com fallback seguro.

3. Camada de comunicação (Network Layer)

  • Protocolos: MQTT com TLS, HTTPS ou CoAP para comunicação segura e eficiente.
  • Segurança: Criptografia ponta a ponta TLS/SSL e autenticação baseada em certificados (X.509) ou tokens.
  • Redes: Ethernet, Wi-Fi, LoRaWAN ou redes celulares para IoT (LTE-M, NB-IoT).

4. Backend (Cloud / Servidor Local)

  • Plataforma IoT: Brokers como Mosquitto, AWS IoT Core, Azure IoT Hub, ou servidores locais (EMQX).
  • Banco de dados: Otimizados para séries temporais, como InfluxDB ou TimescaleDB.
  • Gestão de calibração: Um módulo para associar o ID único de cada sensor ao seu histórico de calibrações, certificados e datas de validade metrológica.
  • Logs de calibração associados a IDs únicos de sensores.

5. Plataforma de monitoramento e visualização

  • Dashboards: Visualização em tempo real (Grafana, Power BI ou plataformas proprietárias e customizadas).
  • Alertas inteligentes: Notificações multicanal (e-mail, SMS, WhatsApp) para desvios, com lógicas de SLA (tempo de resposta, tempo fora da faixa permitida).
  • Auditoria e relatórios: Geração de relatórios de conformidade com um clique, exportação de históricos e acesso rápido aos certificados de calibração de cada dispositivo. Relatórios em PDF/CSV e controle de acesso auditável.

6. Conformidade e segurança de dados (LGPD/ANVISA)

  • Integridade: Logs de auditoria imutáveis que registram quem acessou ou modificou configurações.
  • Acesso: Controle de acesso rigoroso baseado no perfil do usuário (operador, gestor, auditor).
  • Backup: Políticas de backup redundantes, em locais distintos (local + nuvem), para garantir a preservação dos dados.
  • Aderência à LGPD e ANVISA com: Controle de acesso por perfil Consentimento registrado Logs de auditoria invioláveis

Considerações/Sugestões para projetistas de hardware IoT

  • Priorizar sensores com calibração de fábrica e EEPROM interna.
  • Implementar autodiagnóstico e verificação de integridade no firmware.
  • Utilizar RTC com sincronização NTP e backup de bateria.
  • Garantir que a plataforma de backend suporte logs de calibração com segurança criptográfica.

Mais que um requisito, uma vantagem estratégica!

  • Alta confiabilidade e precisão.
  • Conformidade com exigências regulatórias.
  • Redução de riscos em ambientes críticos.
  • Visibilidade em tempo real e resposta proativa.
  • Escalável para milhares de sensores.
  • Integração com ERP, CRM, SCADA, sistemas proprietários ou sistemas de qualidade.

Em setores onde a precisão é inegociável, a calibração de sensores deixa de ser apenas uma exigência regulatória para se tornar a base para a excelência operacional.

Uma arquitetura de IoT bem projetada, com calibração rastreável em seu núcleo, não apenas garante a conformidade, mas também gera confiança nos dados que alimentam toda a operação.

Ações inteligentes salvam vidas e recursos!

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