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O desafio de construir cidades verdadeiramente inteligentes: Tecnologia, Gestão e Propósito

O cenário atual: Entre o sonho e o desafio

Há décadas, vislumbramos cidades futuristas, eficientes e conectadas, um verdadeiro paraíso urbano impulsionado pela tecnologia.

Cidades inteligentes não são sobre sensores, mas sobre pessoas inteligentes.

A digitalização do espaço urbano amplia o acesso à informação, à inclusão digital, ao transporte eficiente e à participação cidadã.

Uma cidade verdadeiramente inteligente não é a que tem mais dados, mas a que usa dados para gerar dignidade.

Conforme reportagem de Marina Lang do Valor Econômico RJ, a realidade em nosso país ainda está em um estágio inicial, como bem apontou o recente Ranking Connected Smart Cities 2023, menos de 2% dos municípios brasileiros avaliados ultrapassam a marca de 50 pontos em uma escala de 100.

Vitória (ES), nossa líder com 61,3 pontos, mostra que o caminho é longo e desafiador.

A frase “Uma coisa é uma cidade que se auto intitula inteligente, outra é ter a certificação”, dita por Celi Almeida, diretora do Instituto Fórum, ecoa a necessidade de ir além do discurso.

Não se trata apenas de instalar câmeras ou um aplicativo, a verdadeira inteligência urbana exige uma profunda transformação na gestão, na infraestrutura e, principalmente, na mentalidade.

É sobre dados, governança, inclusão e a coragem de inovar para resolver problemas reais.

Antes de continuar, vamos entender o básico de como funciona a escala de pontuação do Ranking Connected Smart Cities:

O Ranking avalia os municípios brasileiros com base em um conjunto de indicadores que buscam refletir o nível de desenvolvimento e inteligência de cada cidade.

Escala de pontuação:

  • A pontuação total de uma cidade vai de 0 a 100 pontos.
  • A pontuação máxima (100) representa um desempenho “ótimo teórico”, ou seja, o ideal de uma cidade inteligente em todos os aspectos avaliados.
  • Conforme pesquisa na referida reportagem, menos de 2% dos 575 municípios avaliados ultrapassaram o sarrafo de 80 pontos, e a líder, Vitória (ES), atingiu 61,3 pontos.

Isso já nos diz que atingir pontuações muito altas é extremamente desafiador e indica que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer.

  • A avaliação menciona que municípios com 50 pontos ou mais estão “a meio caminho para atingir o valor ideal”, o que serve como um benchmark de desenvolvimento.

Metodologia de avaliação: O ranking se baseia numa metodologia complexa que agrega dados de diversas fontes e os organiza em “eixos temáticos” e “indicadores”.

  • Fontes de dados: IBGE, Tesouro Nacional, agências reguladoras, como a Anatel para conectividade, ministérios, secretarias estaduais e municipais, e até mesmo dados de empresas privadas que atuam no segmento de cidades inteligentes.
  • Processamento e normalização: Os dados são processados e normalizados para permitir comparações entre cidades de diferentes portes, economias e realidades.

Isso significa que indicadores brutos são ajustados por fatores como população, área territorial, gestão, PIB, etc.

  • Cálculo da pontuação: Cada indicador tem um peso na composição final do eixo temático, e cada eixo temático, por sua vez, contribui para a pontuação total da cidade.

O algoritmo busca refletir um balanço entre as diversas dimensões da inteligência urbana.

Critérios de avaliação. Eixos temáticos

Embora o ranking não detalhe todos os indicadores publicamente, eles são muitos e bastante complexos, os eixos temáticos dão uma visão clara do que é avaliado.

O ranking é estruturado em 11 eixos temáticos, que representam as principais dimensões de uma cidade inteligente, sustentável e conectada.

Cada eixo possui uma série de indicadores específicos que são mensurados. São eles:

  1. Mobilidade e acessibilidade.
  2. Meio ambiente.
  3. Urbanismo.
  4. Tecnologia e inovação.
  5. Empreendedorismo.
  6. Educação.
  7. Saúde.
  8. Segurança.
  9. Energia.
  10. Economia.
  11. Governança.

O Ranking Connected Smart Cities é uma ferramenta valiosa que busca fornecer um diagnóstico diversificado do nível de inteligência e sustentabilidade das cidades brasileiras.

Sua complexidade reflete a própria complexidade de se construir um ambiente urbano verdadeiramente “smart“, que vai muito além da simples adoção de tecnologia, englobando aspectos sociais, ambientais, econômicos e de governança.

A baixa pontuação média das cidades brasileiras, mesmo das líderes, não é um demérito, mas um chamado à ação para que gestores e sociedade civil entendam onde estão os gargalos e invistam de forma mais estratégica e integrada.

Continuando…

O que move a mudança. A revolução dos dados e da conectividade

Por trás de cada “cidade inteligente” existe uma infraestrutura tecnológica robusta.

No Brasil, estamos testemunhando o amadurecimento de pilares que tornam essa visão possível:

  • Conectividade ubíqua: A disponibilidade constante e onipresente de conexão à internet e entre dispositivos tem evoluído em função da expansão da banda larga, tanto em grandes centros quanto em áreas remotas.

Sem ela, sensores não se comunicam e dados não fluem.

A Anatel, está apoiando ativamente a universalização da banda larga e o fortalecimento de pequenos provedores.

  • Sensores IoT: São os dispositivos que fazem o papel de “olhos e ouvidos” da cidade.

Presentes em luminárias, lixeiras, reservatórios, veículos, semáforos e medidores, eles coletam informações em tempo real: tráfego, qualidade do ar, consumo de energia, ocupação de espaços e recursos.

  • Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML): A grande massa de dados gerada pela IoT seria inútil sem a IA, ela é o “cérebro” de analisa dos padrões, prevê eventos, como por exemplo dados de congestionamentos, falhas em equipamentos, demandas por serviços, além de otimizar operações automaticamente.

Conforme reportagem do Valor Econômico, o presidente do Prodam, alerta, “Menos de 20% do governo usam IA para decisões do dia a dia. Smart cities precisam de ‘Smart Prefeitos'”.

  • Gêmeos Digitais (Digital Twins): São réplicas virtuais de ativos físicos (um edifício, uma praça, uma rede de saneamento) ou até de toda a cidade.

Alimentados por dados de IoT e modelados por IA, permitem simular cenários, testar soluções e planejar intervenções de forma precisa e sem riscos.

Por que cidades inteligentes são tão importantes?

A inteligência urbana não é um luxo, mas uma necessidade para enfrentar os desafios do século XXI. Os ganhos são múltiplos:

  • Eficiência operacional e redução de custos: Otimização do consumo de energia na iluminação pública inteligente, gestão de resíduos, manutenção preditiva de infraestruturas de saneamento, transporte e economia de recursos estratégicos em geral.
  • Melhora da qualidade de vida: Tráfego mais fluido, maior segurança pública, exemplos como o Smart Sampa, em São Paulo, que já identificou milhares de foragidos, serviços de saúde e educação mais acessíveis e personalizados.
  • Sustentabilidade ambiental: Monitoramento, economia e gestão de recursos hídricos e energéticos, redução da poluição, planejamento urbano que prioriza áreas verdes e mobilidade ativa.
  • Transparência e governança: Decisões baseadas em dados reais, a participação cidadã facilitada, prestação de contas mais clara e transparente para a população.

Modelos de gestão como o de Vitória, que priorizam dados e integração setorial, são exemplos.

  • Atração de investimentos e talentos: Cidades mais eficientes e com boa infraestrutura tecnológica atraem empresas, startups e profissionais qualificados, impulsionando a educação, desenvolvimento científico e economia local.

Os obstáculos no caminho

Apesar dos benefícios, a jornada é bastante desafiadora:

  • Financiamento e investimento: A implementação de tecnologias inteligentes exige capital significativo.

Embora modelos atuais como o marketplace Prodam Store (GovTech), que permite contratação direta de soluções por prefeituras, facilitem o acesso, o investimento inicial ainda é um desafio.

  • Cultura e gestão: “Conectividade e cidade inteligente não são nada se o gestor não estiver alinhado com isso.

“A frase de Francisco Forbes resume um dos maiores obstáculos: a necessidade de líderes com mentalidade “smart“, que priorizem dados, colaboração Inter setorial e inovação.

  • Qualidade e segurança dos dados: Gestão de dados é um tremendo desafio, muitas vezes são crus e devem ser sempre seguros e atualizados.

A transformação desses dados em ações é muitas vezes complexa.

Garantir dados limpos, seguros, interoperáveis e em conformidade com a LGPD é fundamental.

  • Experiência do usuário e inclusão: A tecnologia deve servir a todos, devem ser democráticas e acessíveis.

Soluções complexas ou que excluem parte da população falham em seu propósito básico de ser inclusiva.

  • Interoperabilidade e padrões: A multiplicidade de sistemas e fornecedores exige padrões abertos para que as diferentes “coisas” da cidade possam se comunicar de forma eficiente.

Os desafios de um Brasil real

Implementar tecnologia em cidades brasileiras não é apenas um projeto técnico, é um projeto político e cultural. Os principais desafios são:

  • Nossa infraestrutura precária: Muitas residências ainda sem acesso à internet móvel.
  • Fragmentação de dados e sistemas legados.
  • Falta de capacitação técnica nas prefeituras.
  • Modelos de contratação pública ainda obsoletos, que não contemplam inovação contínua.
  • Financiamento limitado e dependência de emendas e convênios.

A boa notícia é que novos modelos de PPPs, consórcios intermunicipais e fundos de inovação estão surgindo para preencher essas lacunas.

O impacto social e os grandes exemplos

O verdadeiro impacto das cidades inteligentes vai além da eficiência, toca diretamente na vida das pessoas:

  • Segurança pública: Como já citado anteriormente, o caso do Smart Sampa, que utiliza reconhecimento facial e IA para identificar foragidos e reduzir a violência urbana, é um exemplo de como a tecnologia pode salvar vidas e trazer mais tranquilidade.
  • Mobilidade urbana: Investimentos em dados, informações e gêmeos digitais na gestão do transporte público, buscam otimizar rotas, reduzir tempos de espera e melhorar a experiência dos usuários.
  • Democratização e participação da população: Sistemas de governança baseados em dados abertos e plataformas de interação digital, podem empoderar a população, dando-lhe mais voz e democratizando as decisões que afetam a vida dos cidadãos.

Olhando para o futuro, cidades mais resilientes e com foco no cidadão

Ainda que a certificação de “cidade inteligente” seja difícil hoje, o caminho está traçado e o futuro das nossas cidades será moldado pela capacidade de integrar novas tecnologias aos novos modelos de gestão:

  • IA e IoT em grande escala: IA e IoT irão se tornar ubíquas, desde a coleta de lixo até a gestão de recursos energéticos, tornando as cidades mais autônomas e responsivas.
  • Parcerias Público-Privada: O setor público, com suas plataformas e dados, colaborando cada vez mais com o setor privado, com sua expertise em tecnologia e inovação, para desenvolver soluções conjuntas.
  • Cidades como plataformas: Municípios que se abrem para ecossistemas de inovação, licenciando dados e incentivando a criação de soluções por startups e desenvolvedores locais.
  • Foco em resultados:Outcome Economy“, cidades contratarão “segurança como serviço” ou “eficiência energética como serviço”, pagando pela performance e não pelo produto.

O futuro, dos projetos aos ecossistemas

O futuro urbano não será construído apenas por governos solitariamente, mas por ecossistemas incluindo empresas, universidades, startups, cidadãos e políticas públicas conectadas.

Veremos crescer os modelos de:

  • Cidades-as-a-Platform (CaaP): Infraestrutura digital pública aberta à inovação privada.
  • Economia de dados urbanos: Onde sensores, IA e blockchain geram novos mercados.
  • Cidades autônomas e sustentáveis: Com decisões suportadas por modelos preditivos e éticos.

A jornada da inteligência urbana

A construção de cidades inteligentes no Brasil é uma jornada complexa, mas essencial.

Ela exige não apenas a implementação de tecnologias de ponta, mas uma profunda transformação cultural e de gestão.

É um processo contínuo de aprendizado, experimentação e colaboração.

O Brasil que queremos

A transformação digital das cidades é inevitável. A dúvida não é “se” ela virá, mas “quando” cada município decidir começar. Quem agir primeiro colherá os benefícios de eficiência, governança e reputação. O futuro das cidades não está nas máquinas, mas em como decidimos usá-las para construir um país mais justo, transparente e sustentável.

Os exemplos de Vitória, São Paulo e Curitiba, assim como o alerta de especialistas, nos mostram que a inteligência urbana é um imperativo.

O futuro de nossas comunidades depende da nossa capacidade de transformar dados em ações, conectividade em inclusão e tecnologia em qualidade de vida.

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